Nas últimas duas décadas, a presença de telas no cotidiano infantil tornou-se praticamente inevitável. Smartphones, tablets e computadores passaram a ocupar funções que antes pertenciam a brinquedos, atividades físicas e interações sociais presenciais. Embora os dispositivos digitais ofereçam benefícios educacionais e de comunicação, o uso excessivo e não supervisionado tem demonstrado efeitos preocupantes sobre o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo das crianças. Pesquisadores apontam que crianças entre 8 e 13 anos formam um grupo especialmente vulnerável. Nessa fase, o cérebro ainda está em intensa maturação, especialmente nas áreas responsáveis pela atenção, autorregulação e tomada de decisões. Estudos revisados por Santos (2023) mostram que o tempo excessivo de tela se correlaciona com maior incidência de ansiedade, irritabilidade e sintomas depressivos. O estudo da equipe Panvel (2024), com base em especialistas, reforça que problemas de sono, fadiga ocular, sedentarismo e dificuldades de socialização também estão entre os riscos comprovados. Além das consequências psicológicas e fisiológicas, um fator significativo é o impacto no comportamento e na capacidade de foco. Estímulos digitais rápidos — vídeos curtos, sons, notificações e recompensas instantâneas — condicionam o cérebro a buscar gratificação imediata. Como resultado, crianças podem apresentar dificuldade crescente em se concentrar em tarefas escolares ou atividades que exigem esforço contínuo, um fenômeno já observado em pesquisas internacionais sobre atenção infantil (Christakis et al., 2004). No âmbito familiar, muitos responsáveis subestimam os efeitos do tempo de tela: quase metade dos pais brasileiros acredita que a internet é segura para crianças sem supervisão (Kaspersky, 2020). A falta de percepção do risco dificulta a adoção de limites saudáveis, o que contribui para padrões de uso mais intensos. A pandemia de 2020 agravou ainda mais essa realidade, aumentando o tempo de exposição e normalizando hábitos digitais excessivos (Brasil, 2024). Entretanto, o problema não está na tecnologia em si, mas no desequilíbrio. Quando supervisionados, orientados e expostos a conteúdos adequados, dispositivos digitais podem favorecer o aprendizado e o desenvolvimento. Cabe aos responsáveis estabelecer limites claros, supervisionar conteúdos e incentivar atividades alternativas que promovam criatividade, interação social e movimento corporal. Promover uma relação saudável com a tecnologia é, sobretudo, um ato de cuidado. Envolve diálogo, presença e consciência sobre o impacto dos ambientes digitais na formação das novas gerações. O equilíbrio — e não a proibição — é o caminho mais seguro e eficaz para que crianças cresçam conectadas, mas também saudáveis, atentas e emocionalmente estáveis. Fontes consultadas: > Santos, Renata M. S. (2023). As associações entre tempo de tela e saúde mental no ciclo vital. > Panvel (2024). Uso excessivo de telas pode impactar a saúde mental de crianças e adolescentes. > Brasil (2024). Guia sobre usos de dispositivos digitais – SECOM. > Kaspersky (2020). Para mais da metade dos pais, internet não representa risco às crianças. > Christakis, D. et al. (2004). Early Television Exposure and Subsequent Attentional Problems in Children. Pediatrics.